11-ARANHA-LOBO
CAP. 1 AMIGOS VIRTUAIS
Leônidas, garoto cearense, de classe média-baixa, estudante de ensino médio da escola pública em Fortaleza, amante de tudo o que é tecnológico, principalmente daquilo que seus pais não podem comprar, como vídeo-game de última geração, celular que filma e acessa internet, i-pod, i-ped, net-book e tudo o mais de interessante e divertido que a tecnologia poderia oferecer, como a robótica, que vira pela TV, em campeonatos de destruição de robôs.
Eis que sua escola recebe do governo 12 computadores e, nisso, tendo concurso para que alunos sejam monitores. Logo, ele se inscreve, mas não passa, por não ter curso de computação, e, na verdade, mal sabia digitar, por que nunca tivera dinheiro para gastar em lan-house, e, quando o tinha, apenas jogava games de ação, como Counter-Striker e RPG, como Milotogy e Warcraft.
Alguns dos monitores aprenderam a mexer num programa chamado Amigos Virtuais, um site de relacionamentos da internet. Até então, Leônidas ainda não tinha conhecimento de internet, nem a mínima noção do que seria. Contudo, por sempre aparecer no laboratório de informática, eis que um dia lhe fizeram um perfil.
_Você tem e-mail?_Perguntara-lhe o monitor.
_Hã? O que é isso?_Respondera quase que automaticamente, pois nunca antes escutara aquela palavra.
_Há-há-há. Cara, é uma espécie de correio através do qual a gente se comunica de forma mais rápida. Vou criar um pra você hoje, e amanhã eu te mando o convite do Amigos Virtuais e te ensino a mexer.
No dia seguinte, lá estava ele, esperando o monitor. Nem sequer merendou para conhecer o tal site de relacionamentos.
_E aí, você enviou o convite?
_Sim. Vamos criar para você uma senha, diferente da do e-mail. Você me diz seus dados aqui e eu digito para ti.
_E depois de pronto, o que a gente faz?
_Eu já te mostro. Pronto, olha, aqui são os recados, alguém te adiciona e tu escolhes se quer ou não como amigo. A gente pode procurar um nome de alguém aqui. Diz aí um nome.
_Sei lá, Leonara.
_Pronto, aqui, todos esses perfis são de pessoas que se chamam Leonara. Agora escolhe uma delas pra gente ver o perfil.
_Esta aqui. Mas, por que não dá pra ver o álbum de fotos?
_Ela trancou para amigos. Vou adicionar ela aqui e amanhã a gente vê, se ela te aceitar.
CAP.2: LEONARA
Em todo intervalo Leônidas visitava o multi-mail de sua escola, nome a que chamavam agora o laboratório, afinal, tudo na internet é em inglês. Mas nada de Leonara o aceitar como amigo.
_Ei, cara, o que eu faço para enviar uma mensagem para ela? Por mais que eu tente aqui, nada. Não tem como. Eu não entendi isso.
_Ela bloqueou os scraps.
_O quê?
_Você não pode mandar recado para ela.
_E aí? Morreu?
_Não. Tem uma caixa de mensagem aqui. A de diálogo está fechada, mas pode mandar uma mensagem curta para ela aqui. Mas, geralmente, ninguém olha isso.
_Então, eu escrevo o quê?
_Sei lá. Diz que achou o perfil dela interessante, e gostaria de conversar com ela.
E assim o garoto fez.
No dia seguinte, uma mensagem no e-mail dizia: Eu não te conheço, e por isso, não vou te adicionar, não adianta insistir. Mas, ele blefou, com a seguinte mensagem: Você me conhece sim, só que não lembra. Ao que Ela respondeu: De onde?
Se não lembra de mim, não vou insistir. Depois ele deu a cartada final, a bloqueou, antes que ela desse qualquer resposta.
Em alguns meses Leônidas tinha apenas 10 amigos adicionados, cada um de um Estado diferente. Conversava sempre com eles, e entrava em suas comunidades, falando sobre os mais variados assuntos. Esquecera completamente daquela que quis adicionar antes, até que viu uma caixa embaixo, que não tinha ainda consciência que existia, a caixa de spam.
Por não saber o que significava tal palavra, resolveu abrir, e lá viu uma mensagem de Leonara.
CAP.3: A ARANHA-LOBO
O recado dizia: Não, não lembro mesmo, mas te adicionei. Você tem MSN?
Ele, a essa altura, não mais lembrava quem seria a tal Leonara, porém, decidiu responder: Tudo bem, valeu. Mas quem é você?
Você que me adicionou dizendo que me conhecia.
Eu? Pode ser, mas não lembro. Mas é bom conhecê-la. Você gosta de Biologia? É o que diz aí no seu perfil. Sabe, nessa semana a gente teve umas aulas sobre lixo tecnológico, é um grande problema para o planeta, não é?
Sim. Todo lixo é um grande problema, mas podemos reciclar. Há cidades que reciclam quase todo o lixo e o tecnológico daria para fazer novos objetos, se caíssem em mãos responsáveis que pensassem em políticas públicas com maior seriedade, mas as fábricas só pensam em lucrar.
Eu vi um documentário, dia desses, sobre a seda. Ela é fabricada por vários tipos de insetos, dentre eles aranhas. Dentre elas, uma chamada aranha-lobo, que pode voar centenas de quilômetros a centenas de metros de altura.
Eu não vi isso. É verdade, ou você está mentindo novamente?
Pois é, dessa vez é verdade. Não lembro que tenha mentido. Você também parece que mente quando diz gostar de Biologia. Você gosta, realmente, ou é mentira?
CAP.4: FEIRA DE CIÊNCIAS
Uma semana depois estava à véspera da feira de ciências e Leônidas vira uma reportagem sobre a Universidade Federal do Ceará desenvolvendo uma vacina a partir do feijão de corda e outra sobre finasterida reduzir a calvície e combater o câncer de próstata.
Em seguida, lê uma crônica indignada pela ANVISA querer proibir substâncias usadas em medicamentos para emagrecer e lembra-se, de repente, do cientista, nas estórias do Homem-Aranha, que virava jacaré por causa de uma substância experimental.
E o lixo hospitalar no lixão, deve ferir muitos catadores _Pensou_ como será a vida de um catador de lixo? Será que isso me poderá servir na feira de ciências?
No caminho de volta da escola avistou um catador de lixo na rua, deu sinal de descer e foi ao encalço do homem. Perguntou várias coisas a ele, como quanto ganhava, o que coletava e, de repente, perguntou se ele via muitas peças soltas de computador, sem se dar conta que o catador não estava interessado em conversa; daí, ofereceu-lhe dinheiro para que pegasse algumas peças.
_O que exatamente você quer?
_Se você aparecer aqui amanhã nessa mesma hora eu mostro.
_Tudo bem, mas estou apressado.
No dia seguinte o garoto tinha impresso algumas figuras baixadas da internet de peças de PC, como placa-mãe, HD e fonte, e as levou ao catador, que passara na mesma hora pelo local. Entregou a folha, mas sem saber ainda direito o que faria com as possíveis peças que o catador achasse.
CAP.5: ARANHA CIBERNÉTICA
No dia seguinte, o catador achara várias peças, mouses, teclados e até carcaça de CPU. O garoto pagou, como prometido, e levou tudo para casa, ainda sem muita noção do que faria com aquilo e sem certeza de onde teria vindo a tal ideia de pagar a um catador de lixo para trazer peças inúteis de PC.
Desenvolvera um projeto naquela semana que na hora do vamos ver deu-lhe um 10, e melhor, ele desenvolvera tudo sozinho com pesquisas na internet, sem precisar de uma equipe para tanto.
Naquela tarde, encontrara Leonara on-line e foi logo comentando: Tirei um 10 hoje com o meu projeto de ciências.
_Parabéns! Mas fez uma aranha-lobo?
_Sim. Como adivinhou?
_Você me falou naquele dia dela, e a vi no documentário, talvez o mesmo que você tenha visto antes. Imaginei que usaria isso, mas não tinha ideia de como.
_Eu criei várias com lixo tecnológico que reciclei, cada aranha em uma posição diferente, e, também, construí uma desenvolvida para andar com pilhas.
_Sabe, eu não gosto de aranhas.
_Nem eu. Só do Homem-Aranha. Lembrando dele e de alguns desenhos como Transformers é que imaginei uma aranha produzida a partir do lixo tecnológico.
_E por que a aranha-lobo, em especial?
_Ah, porque ela faz uma coisa quando bebê que o homem sempre sonhou: voar. Se tiver aranha-lobo na China, ela pode até ter sido a inspiração para o balão.
É. Quem sabe. Só não sei porque esse nome, aranha-lobo...
_Ora, por que ela deve uivar para lua cheia, rosnar para estranhos e adorar ovelha no jantar. (risos).
Ateu Poeta
2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário