domingo, 15 de setembro de 2019

10-AERODINÂMICOS


Cap 1: O SALTO

Nascemos todos para voar, assim saltemos na evolução, aprendi isso quando comecei sem saber a evoluir para um quase aerodinâmico. Meu nome é Dínamo, ou pelo menos foi um dia. Agora prefiro que me chamem Eros.

Um certo dia eu estava na casa dos meus avós maternos e simplesmente me deu aquele impulso e eu abri os braços e sai correndo para fora da casa, dei um pulo e planei um pouco. Minha prima perguntara como eu fiz aquilo, mas eu não saberia responder.

O ano é 2100, e a evolução veio mais rápido do que os cientistas do passado esperavam. Aprendi na escola que o mundo já foi um lugar verde e que a água já fora potável a menos de um século. Que todo esse lixo não estava aqui e que mesmo assim os homens faziam muita guerra. 

Eu morava no ultimo canto verde que restou, o Vale Vulcano, que ficava dentro de um antigo vulcão desativado. Muito da História de perdeu no tempo e queimado nas várias guerras. Não sabíamos muito como era lá fora, pois o nosso vale produzia todo o alimento do qual precisávamos. Não existiam muitos exploradores e eles fazem um pacto com o rei de não contar para os outros o que veem lá fora.

Por acaso, eu acabei descobrindo quando corri mais e mais e acabei planando. Mas um dia o rei mandou me chamar.

_Dínamo, é esse o seu nome?

_Sim, meu rei.

_Eu fui informado de que você tem uma habilidade rara de plainar. 

_De fato. Mas é uma coisa assim quase nada. Meu sonho mesmo era voar como um pássaro. Acho que esse era o sonho dos nossos ancestrais.

_Blasfêmia! Você não é um deus como Eros e jamais poderá voar. Se ainda for pego plainando por aí será preso por traição ao nosso deus!

_Entendo, meu rei.

Naquela ocasião, assim com a corda no pescoço, eu prometi nunca mais tentar voar. Mais aquilo era mais forte que eu e eis que um dia fui até a beira do vale e pulei. E para falar a verdade eu simplesmente cai e cai. Só me veio à mente um pensamento: _É hoje que eu morro!

CAP2: CANIBAL

Então, eu tinha me atirado, seguindo aquele louco sonho de voar, e caí, caí, caí, até que senti algo me segurar pelos pés; era um humano planador com pés de harpia e couro aberto como um esquilo voador. 

Enquanto batia as asas, subindo mais e mais, começou a falar:_ O que deu em você de se atirar assim? Que loucura!_ Avistei outros seres iguais a ele também segurando humanos iguais a mim.

_Você é um ser estranho,_Respondi_tem asas de morcego e pés de águia.

_Onde você viu essas coisas?_ Indagou a criatura.

_Em revistas que os aerodinâmicos trazem para a tribo.

_Então, você sabe ler?
_Sim, eu aprendi vendo alguns fazendo isso.

_Mas, isso não importa, você vai virar comida de águia.

_Como?_ Avistei um ninho gigantesco com enormes filhotes monstruosos e famintos a devorar humanos que alguns aerodinâmicos jogavam, mas, alguns humanos começaram a se rebelar e fizeram as aves devorarem-se umas às outras.

_Por que vocês fazem isso com a gente?_ Perguntei.

_Porque se não fizermos, as águias gigantescas capturam os aerodinâmicos. Nós criamos vocês para isso, e os que sobram nós comemos, carne de humano é boa.


_A de aerodinâmicos também deve ser._ Arranquei um pedaço de um dos dedos dele com uma grande mordida. A criatura deu um urro de dor e me soltou mas veio atrás quando caí no ninho. Nisso, um dos humanos enfiou uma estaca em seu pescoço.

Quando a noite caía nós fizemos fogo com varas do próprio ninho e queimamos a palha, assamos o aerodinâmico, aquilo para mim era canibalismo já que um aerodinâmico não era mais que uma espécie de humano evoluído.

CAP3: CARNIFICINA

No dia seguinte, assamos a primeira ave enquanto outros humanos eram jogados no ninho, ao subirmos o mais alto possível avistamos outro ninhos e a águia-mãe deste começava a voltar, então, pusemos fogo no centro do ninho e a fumaça fez a águia vir mais rápido, com olhos a lacrimejar.

_Vamos subir nela ou ela irá nos devorar!_ Clamei. Eu não contei, mas deveria ser por volta de uma centena. Ao subir todo mundo a águia ainda devorou alguns, logo eu subi até a cabeça e chutei um dos seus olhos. A águia começou a voar desnorteada e foi cair justo na minha tribo onde todos saíram de suas cavernas para ver o monstro.

Sugeri que matássemos a águia o quanto antes para nos livrarmos dela em vez de acontecer o contrário. Começaram em seguida a cegá-la com arpões e lhe amarraram os pés com muito custo.

Quando finalmente deu certo foi feito uma fogueira gigante para o banquete, mas o fogo atraiu outras águias e por acaso algumas provaram da águia assada e começaram a virar canibais. Foi uma enorme batalha entre elas, mas algumas foram por nós cavalgadas com cabrestos forjados no momento, na gambiarra.

Reparei que os aerodinâmicos faziam o mesmo, mas uma parte de nós foi mais esperta e conseguiu fazer capuz gigante para alguns e deixou-as sem alimento, alimentando-as aos poucos após vários dias até que algumas ficarem aparentemente dóceis com humanos. 

Os aerodinâmicos resolveram atacar as tribos humanas, então, a minha resolveu fugir para locais planos onde a humanidade vivera antigamente, onde vivi eram plataformas acima das nuvens, onde a humanidade anterior não suportaria viver.

Éramos 300 tribos humanas, agora dizimadas em uma grande carnificina. Aprendendo a controlar as águias os aerodinâmicos não precisam mais de nós.

CAP4: A SELVA


Os antigos humanos se dizimaram, as 300 tribos são descendentes de uma única tribo em fuga que ia migrando cada vez para lugares mais altos e por isso as evolução.

Os aerodinâmicos devem ser para o meu povo a próxima etapa evolutiva, assim como alguns aerodinâmicos agora têm penas e planejam viver fora da Terra, mas os que atravessaram a exosfera logo descobriram que ao sair, pela falta de gravidade, fica-se à deriva e quem volta pega fogo na entrada, por isso há uma impressão de haver uma grande chuva de fogo, mas são só os aerodinâmicos mais evoluídos voltando para morrer tostados .

Também tentei sair da Terra, mas a minha águia congelou e eu com ela, e novamente estava eu a cair até que a centenas de quilômetros abaixo, quase caindo no mar, a águia acordou e conseguiu planar enquanto uma infinidade de tubarões-brancos tentavam morder, mas foi a águia que segurou dois e os devorou no ar.


Ao pousarmos notei que ali era uma selva , talvez sem humanos o mundo todo tenha se repovoado de árvores. Está certo que algum dia o Sol devorará tudo, mas enquanto isso os meus problemas são os tigres-dentes-de-sabre que voltaram a existir, numa versão um pouco maior do que os da época jurássica.

CAP5: EVOLUÇÃO DE 3º GRAU

Dez tigres saltam sobre a águia de uma vez, ela devorou dois, mas os outros oito a feriram fundo com seus dentes de sabre.

A águia levantou voo a devorar mais alguns tigres naquele jogo de quem devora quem, outros saltaram de cima das árvores. Eu só pensava em sequestrar os filhotes e formar um exército de tigres para soltar contra os aerodinâmicos, se fosse possível sobreviver.

_Geralmente, um predador não devora outro_ Disse alguém.

_Por qual razão?_ Perguntei enquanto tentava ver de onde as palavras vinham.

_Os predadores consomem proteína e não produzem, isso é mais uma prova de que mesmo a evolução é falha, pois nenhum ser vive sendo auto-suficiente, somos todos dependentes.

_Você não é um predador também.

_Intermediário, mas sou mais do que você um grau.

_Sei. Um aerodinâmico metido a besta só porque voa.

_Sim, na verdade, três graus acima de você. Olhe para cima._ Olhei e o aerodinâmico em questão tinham asas com plumagem densa e também bico de águia e era maior que os demais.

_Que droga! Vocês não param de evoluir?

_Ha-ha-ha! _A risada vinha de muitos ao redor, eram tantos que  o dia parecia anoitecer.

CAP6: QUEM DEVORA QUEM

Os aerodinâmicos de 3º grau avançaram sobre mim, mas a águia também começava a devorá-los e aos tigres ao mesmo tempo e alguns tigres resolveram devorar os aerodinâmicos, porque era mais fácil do que tentar devorar a predadora suprema.

_Essa águia não vai nos devorar para sempre_Disse um dos aerodinâmicos e fez um canto de chamamento, quando apareceu no céu mais uma infinidade, que deixou tudo como se fosse noite e avançaram sobre mim e a águia.

Ao que parece, o cheiro de sangue atraiu outras espécies e vários crocodilos do Nilo resolveram aparecer e sair devorando também o que viam pela frente, além de cobram gigantes que devoravam inclusive os crocodilos.

Eu só conseguia pensar se a humanidade tinha entrado em extinção por causa deles todos ou se eles todos só conseguiram evoluir assim sem parar graças à humanidade ter praticamente acabado.

Não sei se por loucura plena ou por terror, mas eu decidi saltar da águia no centro daquela guerra natural e resolvi morder também tudo que aparecesse na frente, mas em vez de cair no chão eu consegui plainar novamente e com o vento forte do dia na região eu consegui ir bem mais alto que imaginava que poderia e percebi que alguns dos meus dentes começaram a virar presas e comecei a ganhar asas com plumagem e voei muito e sem parar com alguns aerodinâmicos me perseguindo e resolvi enfrentá-los de frente dando meia-volta.

Consegui derrubar alguns com o susto do ato inesperado. Uma parte desceu para não deixá-los se arrebentar no chão e outros olhavam para mim como se temessem as minhas presas e eu comecei a desviar de seus bicos e mordes seus pescoços derrubando uma infinidade deles.

Eu acho que me tornei uma espécie de aerodinâmico também. E peço licença a todos porque agora irei caçar!

Amadeu Nuvem
2019

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